segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Histórias da meia noite

Coletânea de contos publicada em 1873. O próprio autor advertia no momento da publicação que aquelas páginas “são as mais desambiciosas do mundo.”
Dentre os seis contos eu destacaria uma passagem no irônico “Aurora sem dia” no qual o personagem Luís Tinoco acredita ser poeta (e, posteriormente, político) apesar de sua incapacidade para tanto. A passagem não só apresenta uma condição para ser um bom autor como também, acredito eu, ser um bom leitor:
“Os leitores compreendem facilmente que o autor dos Goivos e Camélias não era homem que meditasse uma página de leitura; ele ia atrás das grandes frases, - sobretudo das frases sonoras – demorava-se nelas, repetia-as, ruminava-as com verdadeira delícia. O que era reflexão, observação, análise parecia-lhe árido, e ele corria depressa por elas.”

Cartas a um jovem poeta / A canção de amor e de morte do porta-estandarte Cristovão Rilke

Sensacional. As cartas de Rilke para o jovem poeta que lhe pede para comentar e
criticar suas poesias não se referem apenas à criação poética. Vão além,
levando-nos a reflexões sobre o sentido mesmo da existência. São preciosos os
pontos de vista de Rilke. Para ele a solidão é a chave para identificar,
compreender e encontrar a solução para os problemas existenciais que nos
afligem. E mesmo que não haja solução o poeta nos ensina um caminho possível para
a resignação.
O enaltecimento da solidão - que Cecília Meirelles dirá na apresentação, a meu ver em tom de crítica,   solidão vista com heroísmo e magnificência  - ocorre não apenas
com o nosso recolhimento e introspecção, mas também com nossa volta ao período da
infância por se tratar de uma fase da vida em que estamos alheios ao mundo adulto
de tal modo que nos sentimos  “solitários”.

Um ponto interessante é o confronto entre Rilke e Machado de Assis sobre a função
ou o papel da crítica. Para aquele o escritor ou poeta não deve ter a crítica como
referência. Ela mais atrapalha que ajuda. Afasta o poeta do que mais importa que
é a reflexão que vem de dentro. Já Machado de Assis escrevia num momento de afirmação da literatura nacional no qual corria sérios riscos de imitar ou copiar estilos estrangeiros necessitando os leitores que a crítica os "orientasse" a "refinar o gosto".
Machado: “Confesso francamente, que, encetando os meus ensaios de crítica, fui movido pela ideia de contribuir com alguma cousa para a reforma do gosto que se ia perdendo, e efetivamente se perde.” (Carta a José de Alencar, Correspondência, p. 56).
Esse tema merece uma análise mais detida posteriormente.

Ressureição

Este foi seu primeiro romance publicado em 1872. O romance gira em torno das dúvidas e ciúmes do “eterno volúvel” Dr. Félix e a “capitosa viúva Lívia” no dizer de Merquior.
Mais uma vez destaco um comentário sobre a vaidade e que nos conduz ao comportamento das redes sociais.  Não basta sermos felizes precisamos parecer felizes:
“Moreirinha não compreendia o que era ser feliz sem publicidade. Para ele, a ilha de Citera não podia ser jamais a ilha de Robinson.” 

Correspondência

Tempo que passa. Talvez seja esta a ideia que nos chega ao lermos as correspondências reunidas de Machado de Assis. Muito mais que o conteúdo das cartas, voltado muitas vezes para assuntos da Academia recém-criada, o que me chamou mais a atenção foi a passagem do tempo desde a primeira carta a sua esposa Carolina em 1868 até setembro de 1908.

Nesse lapso de tempo, quase 40 anos de correspondência, dois momentos são marcantes. A morte de Carolina em 20 de outubro de 1904 e o pressentimento da chegada de sua própria morte em 29 de setembro de 1908.

Crítica & Variedades

Neste volume Machado de Assis discute as bases para uma literatura nacional.