sexta-feira, 17 de novembro de 2017

A coragem de resistir

Literatura ligeira”, assim definiu um amigo português um livro semelhante a este de A. J. Cronin que eu havia lido e comentava com ele. Diálogos curtos e diretos, nada rebuscado, aprofundado e estória com um propósito edificante. 

Dôra, Doralina

E justamente no dia do 107º aniversário de Raquel de Queiroz, neste mesmo dia (17/11/2017), por coincidência, eu estava concluindo a leitura de Dôra, Doralina.

Madame Bovary

Visto como o mais importante romance da literatura francesa, Madame Bovary me deixou duas fortes impressões, uma negativa e outra positiva: a negativa é o exagero nos detalhes na descrição do ambiente, da paisagem e dos personagens. Em especial na primeira metade do romance o detalhismo de Flaubert cansa. A segunda impressão é a fantástica análise psicológica dos personagens. Nestes momentos, os detalhes sobre os personagens fluem naturalmente e a leitura se torna agradável e instigante.

Arte e sociedade em Marcuse, Adorno e Benjamin

Arte e sociedade é considerado o primeiro livro do mundo de crítica à Escola de Frankfurt, segundo o professor alemão Gunter Karl Pressler (UFPA): "Este estudo foi publicado antes da referência sempre citada sobre a Escola de Frankfurt: 'A imaginação dialética', de 1973, do americano Martin Jay." (Folha de São Paulo, 23/08/2015).
Merquior oferece como contraposição teórica ao pessimismo dos frankfurtianos nada menos que Heidegger cuja citação inicial  deixa claro qual o rumo do seu livro: “Nenhuma época se deixa afastar por uma simples negação: a negação elimina apenas o negador."  
A angústia heideggeriana, entendida não como paralisação diante da vida, mas como busca permanente da autencidade, será a chave contra a amargura dos “críticos da cultura”.
“Com esses três elementos: determinada visão do itinerário do Ocidente (a história da metafísica), determinado modelo da autencidade humana, determinado pathos ante o futuro, o pensamento de Heidegger parece responder ao credo pessimista de Frankfurt”. (p. 175)

Além de Heidegger, na conclusão do livro Merquior indica a perspectiva da política como “arte do possível” presente no pensamento de Eric Voegelin como superação do messianismo político.

Razão do poema: ensaios de crítica e de estética

O primeiro livro de Merquior (1965) é uma coletânea de seus ensaios sobre crítica e estética como o subtítulo indica.
 Os textos de Merquior, como é sabido, são densos e, portanto, uma tentativa de resumo ou análise mais elaborada não é meu objetivo. Aqui eu destaquei apenas uma discussão que me parece interessante: o conceito essencialista da natureza humana versus conceito histórico desenvolvido no ensaio Estética e Antropologia. Ele afirma, “o conceito marxista do homem repele a interpretação de uma natureza humana que não seja rigorosamente histórica. ” (p. 211) Diante disso, qualquer tentativa de encontrar uma “natureza” humana, algo permanente e que nos define para além das variáveis sociais, políticas, econômicas, em uma palavra, históricas, seria contrário à perspectiva marxista.
Merquior ressalta que está claro que esta percepção é a predominante nos textos de Marx, porém, em sua estética, ao analisar nos Manuscritos econômicos e filosóficos como Shakespeare e Balzac descrevem as deformações no homem causadas pelo capitalismo, Marx estabelecesse “a imagem de um homem despojado de seus valores reais e tornado em puro espectro de si, emagrecido em sua própria natureza. ” (p.209) Quer dizer,  é como se Marx realmente admitisse a existência de uma “natureza humana” que foi corrompida pelo capitalismo.

“É que o marxismo aqui comparece como um historicismo arrependido: depois de proclamar a historicidade de todas as essências; depois de praticar a análise histórica mais inteligentemente que qualquer outro historicismo, depois de denunciar como “metafísica” qualquer ontologia que pretendesse escapar aos limites da História, eis que Marx e os marxistas nos acenam, para que o reconheçamos como o fundamento da arte, com esse indefinível conceito de uma “natureza” humana”. (p. 210)