sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Escritos avulsos II

São crônicas e contos escritos entre 1883 e 1884. Praticamente todos possuem o estilo de levar o leitor a um final inesperado, muitas vezes contrário não só ao senso comum, mas também contrário ao moralmente esperado.
É como se Machado quisesse realçar as forças do acaso e da malícia humana.

- A carteira: Honório encontra uma carteira na rua com dinheiro suficiente para saldar uma dívida que o aborrece. Além do dinheiro, há na carteira bilhetes, que ele não lê, e cartão de visita que ele descobre ser do seu melhor amigo. Ao saber disso, a consciência o faz devolver a carteira. O bilhete que ele não leu era do amigo para a esposa de Honório que o traía...

- O caso de Romualdo: Romualdo inicia o conto como um sujeito antipático e mal visto e com o desenrolar da história passa a ser visto e desejado por duas mulheres improváveis.

- O destinado: Delfina passa toda a história dividida entre dois pretendentes. No último parágrafo ela vê o irmão conversando com um cliente "pobre diabo" que até então não havia aparecido e será justamente este "o destinado".

- Troca de datas: Eusébio e Cirila se casam, mas ele perde todo o interesse na mulher. Ela se muda para a fazenda; ele a viver vários amores na capital. Ao final, passados vários anos, ele se arrepende e volta. Cirila o aceita. Cabe ao tio João, "homem rude e filósofo", decifrar o que se passou entre eles: "Não eram as naturezas que eram opostas, as datas é se não ajustavam; o marido de Cirila é este Eusébio dos quarenta, não o outro. enquanto quisermos combinar as datas contrárias, perdemos o tempo; mas o tempo andou e combinou tudo."

- Questões de maridos: mais uma crônica com um final "inesperado". Marcelina e Luísa são irmãs e se casam ao mesmo tempo. Marcelina descreve o marido de forma negativa, já Luísa está feliz da vida. No último parágrafo eis que é o oposto.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Papéis avulsos II

Os contos reunidos neste volume são também chamados de "avulsos". Acredito que a mesma advertência feita nos "Papéis avulsos I" vale para este embora não haja nenhuma indicação dos organizadores a não ser pelo título.

Dentre eles o mais interessante para mim é o divertidíssimo "O empréstimo".

Papéis avulsos I

A "advertência" de outubro de 1882 faz ver ao leitor que os contos ora reunidos são "avulsos", mas nem tanto. "Avulsos são eles, mas não  vieram para aqui como passageiros, que acertam de entrar na mesma hospedaria. São pessoas da mesma família, que a obrigação do pai fez sentar à mesma mesa."

O destaque é para "O alienista" e "Teoria do medalhão".

Memórias póstumas de Brás Cubas

No prólogo da primeira edição desta "obra de finado" Machado de Assis diz que a escreveu "com a pena da galhofa e a tinta da melancolia".E é assim. Galhofa, melancolia e também sarcasmo, ironia, cinismo...

Da primeira à última linha é assim, literalmente. Da dedicatória à última frase do livro: "Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas." E no final, "Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria."

Está nos meus planos, ao ler a biografia do autor, tentar descobrir as motivações desse estilo.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Bons dias! & Notas semanais

Reunião de crônicas publicadas em 1878, 1888 e 1889.

“Mas aqui está o que é; eu sou um pobre relojoeiro, que, cansado de ver que os relógios deste mundo não marcam a mesma hora, descri do ofício. A única explicação dos relógios era serem iguaizinhos, sem discrepância; desde que discrepam, fica-se sem saber nada, porque tão certo pode ser o meu relógio, como o do meu barbeiro.” 



Iaiá Garcia

Apesar de não ter lido a crítica especializada sobre a obra, Iaiá Garcia (1878) me pareceu um ponto de maturidade de Machado de Assis se comparada aos romances anteriores. É claro que em seguida virá o ponto de inflexão com Memórias Póstumas de Bras Cubas (1881) mas,  em Iaiá a caracterização dos personagens, seus conflitos internos e, o que me parece mais difícil de avaliar, o estilo do autor, dão um salto de qualidade rumo a uma narrativa mais densa e sofisticada.

“ Iaiá transpôs a soleira e saiu; precisava de ar, de espaço, de luz; a alma cobiçava um imenso banho de azul e ouro, e a tarde esperava-a trajada de suas púrpuras mais belas.” 



domingo, 16 de outubro de 2016

História de quinze dias

Grupo de crônicas sobre fatos ocorridos na quinzena anterior e publicadas na quinzena seguinte, daí o nome ‘histórias de quinze dias’ nos anos de 1876, 1877 e 1878.

Sobre a repercussão da morte de Louis Adolphe Thiers (15 de Abril de 1797 - 3 de Setembro de 1877) Machado explica o porquê da comoção:
“ A causa não é outra senão que a liberdade, a ordem, o talento, a hombridade são por assim dizer uma pátria comum, e que há homens tão ligados ao movimento das ideias e à história da civilização que o seu desaparecimento é um luto universal.”

A mão e a luva

Este é o segundo romance de Machado (1874). Na advertência de 1874 o autor se mostra modesto em relação à obra: “O que aí vai são umas poucas páginas que o leitor esgotará de um trago, se elas lhe aguçarem a curiosidade, ou se lhe sobrar alguma hora que absolutamente não possa empregar em outra cousa, - mais bela ou mais útil.”  Já na edição de 1907 não lhe fez qualquer alteração, “Vai como saiu em 1874.”

O objetivo central foi a caracterização dos personagens, em particular, Guiomar. Sobre ela dirá: “A vontade e a ambição, quando verdadeiramente dominam, podem lutar com outros sentimentos, mas hão de sempre vencer, porque elas são as armas do forte, e a vitória é dos fortes.”

Crisálidas, falenas & americanas

Há nestes poemas a possibilidade de avaliarmos o amadurecimento do estilo de Machado de Assis. Segundo Merquior, Crisálidas (1864) é um “livrinho tributário do ultrarromantismo”; já em Falenas (1870) “ o progresso do lirismo machadiano é palpável” (...) “ A poesia adulta de Machado talvez tenha nascido com a delicada ourivesaria desses versos.” Americanas (1875) é “o cume de sua lírica romântica.” 

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Histórias da meia noite

Coletânea de contos publicada em 1873. O próprio autor advertia no momento da publicação que aquelas páginas “são as mais desambiciosas do mundo.”
Dentre os seis contos eu destacaria uma passagem no irônico “Aurora sem dia” no qual o personagem Luís Tinoco acredita ser poeta (e, posteriormente, político) apesar de sua incapacidade para tanto. A passagem não só apresenta uma condição para ser um bom autor como também, acredito eu, ser um bom leitor:
“Os leitores compreendem facilmente que o autor dos Goivos e Camélias não era homem que meditasse uma página de leitura; ele ia atrás das grandes frases, - sobretudo das frases sonoras – demorava-se nelas, repetia-as, ruminava-as com verdadeira delícia. O que era reflexão, observação, análise parecia-lhe árido, e ele corria depressa por elas.”

Cartas a um jovem poeta / A canção de amor e de morte do porta-estandarte Cristovão Rilke

Sensacional. As cartas de Rilke para o jovem poeta que lhe pede para comentar e
criticar suas poesias não se referem apenas à criação poética. Vão além,
levando-nos a reflexões sobre o sentido mesmo da existência. São preciosos os
pontos de vista de Rilke. Para ele a solidão é a chave para identificar,
compreender e encontrar a solução para os problemas existenciais que nos
afligem. E mesmo que não haja solução o poeta nos ensina um caminho possível para
a resignação.
O enaltecimento da solidão - que Cecília Meirelles dirá na apresentação, a meu ver em tom de crítica,   solidão vista com heroísmo e magnificência  - ocorre não apenas
com o nosso recolhimento e introspecção, mas também com nossa volta ao período da
infância por se tratar de uma fase da vida em que estamos alheios ao mundo adulto
de tal modo que nos sentimos  “solitários”.

Um ponto interessante é o confronto entre Rilke e Machado de Assis sobre a função
ou o papel da crítica. Para aquele o escritor ou poeta não deve ter a crítica como
referência. Ela mais atrapalha que ajuda. Afasta o poeta do que mais importa que
é a reflexão que vem de dentro. Já Machado de Assis escrevia num momento de afirmação da literatura nacional no qual corria sérios riscos de imitar ou copiar estilos estrangeiros necessitando os leitores que a crítica os "orientasse" a "refinar o gosto".
Machado: “Confesso francamente, que, encetando os meus ensaios de crítica, fui movido pela ideia de contribuir com alguma cousa para a reforma do gosto que se ia perdendo, e efetivamente se perde.” (Carta a José de Alencar, Correspondência, p. 56).
Esse tema merece uma análise mais detida posteriormente.

Ressureição

Este foi seu primeiro romance publicado em 1872. O romance gira em torno das dúvidas e ciúmes do “eterno volúvel” Dr. Félix e a “capitosa viúva Lívia” no dizer de Merquior.
Mais uma vez destaco um comentário sobre a vaidade e que nos conduz ao comportamento das redes sociais.  Não basta sermos felizes precisamos parecer felizes:
“Moreirinha não compreendia o que era ser feliz sem publicidade. Para ele, a ilha de Citera não podia ser jamais a ilha de Robinson.” 

Correspondência

Tempo que passa. Talvez seja esta a ideia que nos chega ao lermos as correspondências reunidas de Machado de Assis. Muito mais que o conteúdo das cartas, voltado muitas vezes para assuntos da Academia recém-criada, o que me chamou mais a atenção foi a passagem do tempo desde a primeira carta a sua esposa Carolina em 1868 até setembro de 1908.

Nesse lapso de tempo, quase 40 anos de correspondência, dois momentos são marcantes. A morte de Carolina em 20 de outubro de 1904 e o pressentimento da chegada de sua própria morte em 29 de setembro de 1908.

Crítica & Variedades

Neste volume Machado de Assis discute as bases para uma literatura nacional.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

A esquina do Lafayette e outros tempos do Recife

Em detrimento do que ocorre com o patrimônio histórico material de nossa cidade, em especial o centro do Recife, em estado permanente de degradação e apenas com algumas "ilhas" de preservação, livros como este de Rostand Paraíso são um estímulo e uma esperança na preservação da memória da cidade.







Eu destaco as seguintes crônicas:

- O poeta e o carteiro;
- Capiba (todas as 6 crônicas sobre o compositor);
- A esquina do Lafayette;
- "M" e "W' - dois cronistas do Recife;
- A rua da Imperatriz;

- A vacaria da Malaquias.

A esquina do Lafayette - Rua do Imperador com 1º de Março

Nos bares da vida - contos de bar

Gosto não se discute, mas...lamenta-se.Não lembro exatamente porque comprei o livro de Paulo Montezuma, mas agora que o li me decepcionei. As estórias são desinteressantes e mal escritas. Tentando amenizar minha decepção eu diria que os contos me parecem mesmo "conversa de bêbado" em mesa de bar.


Tenho a impressão que adquiri o livro na mesma época em que comprei o bom livro "A esquina do Lafayette" de Rostand Paraíso cujo memorialismo, além de agradável leitura, contribui para preservar a história de personagens e situações de nossa cidade.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

O melhor da crônica brasileira 1

Se for para escolher o melhor entre os melhores, eu prefiro a melhor desta coleção: Rachel de Queiroz. O lirismo de "Tangerine girl" é algo comovente e delicioso de ler. A garota que acenava para o soldado no dirigível e nutria mil sonhos românticos vê seu mundo desabar no contato com a realidade, "...só viu escárnio, familiaridade insolente...".

 Já "Pici", a descrição do sítio de veraneio comprado pela família da escritora quando era menina, é nostalgia embalada em bela narrativa de sentimentos e emoções. Me fez lembrar os tempos de menino em Carpina.

"Nunca mais fui lá. Dói demais, vai doer demais, imagino. Eu ainda escuto no coração as passadas de meu pai no ladrilho do alpendre, o sorriso de minha mãe abrindo a janela do meu quarto, manhã cedo: "Acorda, literata! Olha que sol lido!" (...)
Não, nunca mais quero ir lá. Ninguém desenterra um defunto amado para ver como é que estão os ossos." p. 62

De Armando Nogueira gostei muito de "Menino que chega", crônica discutida na "Ficha do aluno" da coleção.

"Onde estão as borboletas azuis?" de José Lins do Rego para além do aspecto literário o que chama a atenção é ele se revoltar, já na década de 50, contra a imundície da Lagoa Rodrigo de Freitas no RJ.

De Sérgio Porto, ou Stanislaw Ponte Preta, duas foram bem divertidas: "Vamos acabar com esta folga" para certos brasileiros largarem a mania de serem bestas :) e "Com a ajuda de Deus" que brinca com os religiosos.

A escrava Isaura

A leitura de A Escrava Isaura teve um gosto de nostalgia do tempo em que eu acompanhei a novela da Globo. Foi impossível ler o livro sem associar os personagens aos atores e atrizes da novela.

Graças à proposta do Xô, tsundoku! li os dois livros de Bernardo Guimarães que estavam disponíveis em minhas prateleiras. É claro que esses dois livros não dão conta de entender o estilo do autor ao longo de toda sua produção de 26 livros, entre publicados e não publicados, porém tivesse eu lido apenas um dentre estes dois teria, certamente, ficado com uma visão equivocada de seu estilo.

Ambos os livros tratam de temas complexos e envolventes: a instituição da escravidão e do celibato. E quanto a isso, considerando o contexto histórico no qual foram escritas, são obras literárias dignas de atenção. Mas o que me chamou a atenção foi que A Escrava Isaura tem uma estrutura e uma linguagem muito mais atraente se comparada a O Seminarista.

Talvez porque o autor optou por descrever menos a paisagem e as situações e permitir o diálogo entre os personagens, A Escrava Isaura ficou, sem dúvida, muito mais leve. O Seminarista, ao contrário, sofreu com os excessos típicos da fase chamada ‘ultraromântica', excessos de sentimentalismo, tramas para afastar os amantes, amores não correspondidos etc. e, não menos importante, os excessos na linguagem que para os dias de hoje tornam a leitura enfadonha.

O Seminarista

Denúncia contra a instituição do celibato. Talvez esta afirmação resuma a intenção de Bernardo Guimarães em O Seminarista. Da amizade entre duas crianças, que vivem na mesma área rural, a história evolui para a dor da separação - neste momento apenas separação entre amigos - quando Eugênio é mandado para um seminário para se tornar padre.

Ao descobrir que o que sente por Margarida não é apenas saudade de amigos, mas algo muito mais forte, Eugênio passa pelo tormento que é a concepção de sexualidade da Igreja Católica.
"Sua terna e delicada sensibilidade embotou-se, ou antes apagou-se no gelo de um beatismo frio, austero e sem arroubos." p. 22

"O rapaz que sai de um seminário depois de ter estado ali alguns anos, faz na sociedade a figura de um idiota. Desazado, tolhido e desconfiado, por mais inteligente e instruído que seja, não sabe dizer duas palavras com acerto e discrição, e muito menos com graça e afabilidade. E se acaso o moço é tímido e acanhado por natureza, acontece muitas vezes ficar perdido para sempre." p. 26

Nos momentos finais Bernardo Guimarães, já flertando com o naturalismo e o realismo, denuncia quão equivocado é o celibato:

"Ah, celibato!... terrível celibato!... ninguém espere afrontar impunemente as leis da natureza! tarde ou cedo elas têm seu complemento indeclinável, e vingam-se cruelmente dos que pretendem subtrair-se ao seu império fatal!..." p. 74

Gênios da Pintura - Modernos

A "jaula das feras" (cage aux fauves) é apresentado por Bardi como o primeiro movimento do século XX - Salão do Outono de 1905 em Paris - com tendências modernistas. Os fauves ou Fauvismo "origina-se diretamente das inovações técnicas e estéticas do Impressionismo, sem o qual sua concepção de cor e espaço não seria possível. Rebela-se, entretanto, contra o excessivo apego dos impressionistas à natureza, aspirando a uma pintura ostensivamente recriadora da mimese."
Os fauves tinham um pai, Van Gogh, e um parente próximo, Gauguin, "superadores de qualquer preocupação naturalista."

Matisse seria um dos grandes fauvistas e Georges Braque um ex-fauvistas que abriria, junto com Picasso (e depois Juan Gris), os rumos para um dos maiores movimentos artísticos do século: o Cubismo. Com o cubismo a pintura tenta desvencilhar-se do "tema" objetivando conquistar maior liberdade de expressão. Picasso dirá: "O cubismo deve decompor o objeto para melhor estudar as suas estruturas."

Há ainda o Expressionismo que reunia manifestações de revolta para denunciar o desânimo e as loucuras da humanidade. Munch e Ensor são dois representantes desse movimento. "Os expressionistas parecem concordes em sacrificar o desenho ao antidesenho, a composição à anticomposição, a cor à anticor; são propositalmente sem graça, agridem quem olha, propõem o absurdo, invertem qualquer valor, gostam de tudo que é inverso e perverso."

Bardi menciona ainda o Surrealismo e o Dadaísmo. "Esses movimentos - cujas ligações com as pesquisas psicanalíticas contemporâneas são notórias - pretendem explorar o inconsciente do homem, libertando-o do domínio da razão."

As manifestações da arte não figurativa perpassam todos esses estilos. O Abstracionismo será representado, de um lado, por Kandinsky e Klee cujo lirismo procura copiar formas do mundo exterior e, por outro lado, por Mondrian (Neoplasticismo) que não copia as formas e propõe o quadro como um produto industrial.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Gênios da Pintura - Pós-Impressionistas

De acordo com os historiadores da arte o pós-impressionismo é considerado o que foi produzido de válido e não acadêmico entre a última exposição dos impressionistas em 1886 até o primeiro decênio do século XX. No entanto, ressalta Bardi que esta é uma cronologia de conveniência uma vez que nesse período havia diversos movimentos, tais como, Neo-Impressionismo, os Nabis, a Escola de Pont-Aven e o Simbolismo e mais tarde o Abstracionismo. Para Bardi, então, “pós-impressionismo” é um “termo elástico, espécie de refugium das últimas consequências do Romantismo.” Os artistas selecionados por Bardi neste volume dão bem a dimensão da elasticidade mencionada.



Pintores pós-impressionistas estudados:
Paul CÉZANNE (1839 - 1906)
Vincent VAN GOGH (1853 - 1890)
Paul GAUGUIN (1848 - 1903)
Claude MONET (1840 - 1926)

Gênios da Pintura - Impressionistas

A intenção de subverter o ideal de beleza característico da estética acadêmica leva o artista impressionista a substituir a “pintura” pela “impressão” de pintura. Com isso, segundo Bardi, os impressionistas desejam “fixar a fugacidade da luz, o efêmero das coisas, despreocupados com a elaboração “desenhística”, o desenho resumido, quase engolido na rapidez das palpitantes pinceladas.” (...) “Os impressionistas não queriam representar por meio do desenho e do claro-escuro, mas através de manchas.”  





Pintores impressionistas estudados:
Édouard MANET (1832 - 1883)
Pierre-Auguste RENOIR (1841 - 1919)
Edgar DEGAS (1834 - 1917)

Henri de TOULOUSE-LAUTREC (1864 - 1901)

Gênios da Pintura - Românticos e Realistas

Já vimos que os Neoclássicos seguiram os padrões greco-romanos privilegiando as regras acadêmicas. Os Românticos, por outro lado, criam os “jardins românticos” em contraposição às convenções e artifícios das frias regras neoclássicas. “O Romantismo procura a liberdade e a expressão individual, um passo mais adiante da ideia renascentista que gerara o ‘grecismo’”. Os Realistas, por seu turno, não pretendem fugir do mundo real pela exaltação dos sentimentos, mas, ao contrário, tendem a ater-se unicamente aos fatos.





Pintores estudados:

Românticos:
Eugène DELACROIX (1798 - 1865)
Théodore GÉRICAULT (1791 - 1824)

Realistas:
Gustave COUBERT (1819 - 1877)
Honoré DAUMIER (1808 - 1879)

Gênios da Pintura - Neoclássicos

Encampando uma revolta contra o Barroco e o Rococó, o crítico alemão Johann Joachim Winckelmann, autor da História da Arte da Antiguidade, será o fundador da “moderna história das artes figurativas.” Os neoclássicos pretendiam manter os ideais clássicos da antiguidade a partir de regras acadêmicas e os respectivos mestres oficiais. Segundo Winckelmann, “Para nós, a única saída para nos tornar grandes e, possivelmente, inimitáveis, é imitar os antigos (...), particularmente os gregos.”

Pintores neoclássicos estudados:
John CONSTABLE (1776 - 1837)
William TURNER ( 1775 - 1851)
Jacques-Louis DAVID ( 1748 - 1825)

Jean-Auguste Dominique INGRES (1780 - 1867)

Gênios da Pintura - Barrocos

Segundo Bardi, “O Barroco é o descanso após o Renascimento (...) A pintura é coerente com o ritmo: o vento agita as vestes dos santos, a paisagem é sem medida, repleta de abismos e de céus fulgurantes. As figuras estão contorcidas em êxtase, há um delírio de mitologia nos países livres do cheiro das velas de sacristia – velhas épocas em que os reis católicos governavam com obscurantismo e autos-de-fé.”

Pintores barrocos estudados:
Peter Paul RUBENS (1577 - 1640)
Diego VELÁZQUEZ (1599 - 1660)
REMBRANDT Harmenszoon van Rijn (1606 - 1669)
CARAVAGGIO [Michelangelo Merisi (ou Amerighi)] (1571 - 1610)


Rubens. Retrato de Susanne Fourment, "O que ressalta no quadro é a viva e esplêndida intensidade cromática, sublinhada pelos detalhes humanos."

Retrato de Susanne Fourment

Volta ao trabalho. Nos últimos anos de vida Rubens "descobriu a vida real,a cidade e o campo, sem mitologia nem heroísmo, substituídos aqui pela 
Volta ao trabalho
quietude da paisagem." 

As meninas
"Retrato ambientado, quase alegórico, indiscutível obra prima de espontaneidade. Velázquez está presente, mas 'é a luz a principal personagem do quadro'(Harley)."
As meninas


A rendição de Breda ou As lanças.
"A reprodução total permite entender por que muitos peritos o consideram 'o maior quadro histórico do mundo'." Celebra a vitória de Spinola que coloca cortesmente a mão no ombro do vencido, Justin de Nassau, e este entrega as chaves da cidade. Bardi chama a atenção para a luz na cena que recai sobre os dois generais.
A rendição de Breda ou As lanças
"Um brilho intenso cai sobre o rosto triunfante mas bondoso de Spinola, enquanto os traços melancólicos de Justin de Nassau estão quase imersos na sombra - um lampejo de gênio artístico e também de generosidade humana."





A forja de vulcano.
Ambiente classicista no qual Velázquez realiza uma síntese brilhante e pessoal. 
A forja de vulcano


Mulher no banho.
"Através dos seus famosos claro-escuros Rembrandt consegue concentrar a atenção apenas num elemento do quadro: a mulher tomando banho."
Mulher no banho


Os negociantes de tecidos.
"Numa cena animada, onde cada indivíduo é sentido separadamente, Rembrandt conseguiu dar ao grupo o sentido de unidade."
Os negociantes de tecidos



Davi com a cabeça de Golias.
No quadro Caravaggio se utiliza de um tema permanente: a beleza equívoca do adolescente.
Davi com a cabeça de Golias

"A cabeça decepada de Golias é considerada um auto-retrato de Caravaggio, já tomado pela melancolia em que viveu os últimos e perigosos anos de sua trajetória."


Conversão de São Paulo.
A composição vibra numa forte tensão expressiva.
Conversão de São Paulo
"'Onde está o santo?' - indagavam os maus entendedores - 'Aqui só se vê um cavalo!' Escapava-lhes tanto a simbologia do momento - quando São Paulo, o homem, caiu ao chão ofuscado pela visão de Jesus, na estrada de Damasco - como também a expressiva beleza transcendente que brota do vago foco de luz vindo de cima, a banhar o ventre do cavalo e inundar de claridade o rosto do santo. Colocando o centro do afresco no chão, Caravaggio documenta a insignificância do homem perante a divindade."


A decapitação de Holofernes.



terça-feira, 19 de julho de 2016

Gênios da Pintura - Renascentistas

Em contraposição ao universalismo e transcendentalismo medieval, o renascimento resgatará os ideais clássicos, herdados da Grécia e Roma, tendo como ênfase o indivíduo, o homem pensante e atuante.

Pintores renascentistas estudados:
MICHELANGELO di Lodovico Buonarroti Simoni (1475 - 1564)
LEONARDO di Ser Piero DA VINCI (1452 - 1519)
RAFAEL Sanzio (1483 - 1520)

Albrecht DüRER (1471 - 1528)

A obra de Michelangelo é apresentada por Pietro Maria Bardi com ênfase especial em detalhes da Capela Sistina. Assim, A Sibila Pérsica é mostrada com um corpo atlético em referência ao ideal de beleza da antiguidade. Este detalhe “ressalta no conjunto graças aos efeitos de luz e sombra empregados pelo artista, fazendo contrastar o rosto e as roupas.
A Sibila Pérsica

Bardi narra um fato relacionado à consciência de genialidade que tinha Michelangelo de sua obra. Ao ser questionado sobre a escassa semelhança entre as estátuas que fazia para a Capela dos Medici e os membros dessa poderosa família ele dá de ombros e diz: “ Quem perceberá este detalhe daqui a dez séculos? ”

Eu destaco para Leonardo da Vinci a pintura Santana, a Virgem e o Menino. Segundo Bardi, Pietro de Nuvolaria deu a interpretação chave para apreciarmos a obra: “ a Virgem tenta separar seu filho do cordeiro, que simboliza a paixão de Cristo. Santana, representando a Igreja, retém sua filha. ” Este foi o quadro predileto de Leonardo da Vinci.
Santana, a Virgem e o Menino

 Rafael seria o responsável pela introdução “de uma tendência para a beleza ideal, inspirada nos conceitos artísticos da Antiguidade.” Para Bardi, porém, Rafael não se limitou a dá um “testemunho” da cultura antiga, mas de produzir uma “beleza idealizada” em suas obras.  Exemplo dessa idealização é Retrato de Cardeal: “Nesse retrato, reedita-se a fusão de expressão caracterológica com a idealização típica: é a qualidade aristocrática da pintura que lhe confere dignidade.
Retrato de Cardeal
O soberbo padrão técnico pode ser apreciado com o exame de um único aspecto: sem nenhuma fratura de ritmo, o escarlate intenso e rico parece ter vida em cada um dos planos que, embora distintos, não chegam a afetar a continuidade.”

Dürer circula entre dois mundos, o religioso e o humanista. Insere-se na tendência de seu tempo de pintar retratos e quadros históricos e mesmo nos temas religiosos introduz aspectos da vida cotidiana. Um dos melhores quadros de Dürer é o Retrato de Oswolt Krel. A expressividade e alcance psicológico da obra são assim destacados por Bardi: a obra “deixa patentes o caráter e a posição social do personagem, rico e enérgico negociante que, por outro lado, deseja participar da vida cultural de seu meio. O arranjo é simples: a figura do homem em meio-corpo, um trecho de paisagem. Desse despojamento – que reforça a qualidade psicológica da descrição – resulta uma obra que pode ser situada entre as mais expressivas de Dürer.”
Retrato de Oswolt Krel

Gênios da Pintura - Góticos

Definir o estilo “gótico” não é tarefa fácil. Isto porque, segundo Pietro Maria Bardi, o estilo possui uma “aderência elástica com a realidade”. A pintura gótica tem suas raízes no estilo românico e em certo momento ambos os estilos interagem formando o “românico-gótico” que, por sua vez, levará ao renascimento.

O gótico se propõe a romper com o “maneirismo”, ou seja, com as fórmulas do artista medieval de estilo bizantino. A partir de uma fórmula e esquemas pré-definidos o artista bizantino recebe encomendas e as produz sem atingir a vida diretamente e nem nela se inspirar. Tais regras de como produzir a arte são encontradas em manuais e definidas pelas autoridades eclesiásticas.

Caberá a Giotto ser o precursor dessa ruptura. “Juntando experiências precedentes, ele corta as ligações, as pontes com a tradição bizantina. Cria uma potente expressão popular que é românica, e, ao mesmo tempo, propõe invenções na estilização que constituirão o anel de conjuntura com a plena forma gótica, que já tinha livre aceitação em França e Inglaterra.”

Pintores góticos estudados:
GIOTTO di Bondone (1266 - 1337)
Tommaso Vassai MASACCIO (1401 - 1429)
Rogier VAN DER WEYDEN ou Rogier de la Pasture (1400? - 1464)
FRA ANGELICO [Giovanni da Fiesole] (1387? - 1455)

Giotto: com poucas exceções os artistas ainda seguiam a concepção de arte voltada “para maior glória de Deus”, porém com Giotto os santos impressionam por terem expressões de gente, por serem humanizados.

Prédica diante de Honório III: observa-se a preocupação do artista com a humanidade das figuras representadas. Nota-se também a reprodução da arquitetura gótica.

Prédica diante de Honório III

Ascensão de Jesus: mostra claramente que o artista já está praticamente livre de influências bizantinas: seu caminho é o do realismo.
Ascensão de Jesus

Masaccio: adota uma concepção severa, realista, profundamente enraizada na revelação do homem pela sua própria imagem através da arte.
O humanismo pictórico de Masaccio pode ser observado na cena da Distribuição das esmolas por São Pedro: “Em vez de retratar os nobres da abastada sociedade florentina, Masaccio – ele próprio de origem plebeia – prefere colocar o povo como participante das cenas sacras. Os traços grosseiros da mulher a quem São Pedro dá o primeiro óbolo assemelham-se aos de uma Madonna camponesa, com o filho ao colo, circundada pelos enfermos e aflitos que o apóstolo socorre. Ao seu lado, digno e solene, encontra-se o jovem São João Evangelista. No chão, o cadáver de Ananias, que retivera parte dos fundos destinados à comunidade.” 
Distribuição das esmolas por São Pedro

O realismo de Masaccio pode ser observado em Crucifixão, “sem dúvida umas das mais notáveis realizações de Masaccio” (PMB) que o artista executou com apenas 25 anos de idade: “Basta ver a disposição comovente dos braços de Madalena, ajoelhada diante do Cristo morto e realisticamente deformado pela crucifixão.” 
Crucifixão

São Pedro na Cátedra: “Rompendo de maneira decisiva com a tradição da arte medieval, Masaccio incorpora às suas pinturas as descobertas arquitetônicas do espaço visual.” 
São Pedro na Cátedra

Van der Weyden: Deposição da cruz, esta obra “monumental”, foi salva por um triz de um naufrágio. “O ritmo e a dinâmica da pintura surgem das massas diametrais e paralelas dos corpos que tombam com extraordinária suavidade: o do Senhor morto e o da Virgem, que desmaia. Evidenciam-se várias expressões diante do sofrimento: do desespero de santa Madalena (à extrema direita, torcendo as mãos) à contrição interiorizada (os santos que ajudam a deposição da cruz).“ 
Deposição da cruz

Sem ser um grande colorista, o artista imprime grande beleza cromática a esse quadro movimentado: “A simbologia ainda medieval das cores acentua o clima trágico: o rubro manto de São João Evangelista, que apoia a Virgem, é um símbolo recorrente da Paixão; o azul do manto de Nossa Senhora representa a perseverança da fé; os trajes luxuosos da figura que denota o doador do quadro – um nobre desconhecido – significam a transitoriedade do luxo e da pompa dos poderosos da terra, que se esvanecem diante da advertência eloquente – a caveira e os ossos dispersos – e diante da magnitude do Redentor.”

Fra Angelico: para alguns críticos há traços nitidamente renascentistas, sem prejuízo do conteúdo religioso: “seria ele o primeiro artista a transmitir uma sensação de alegria espontânea. ” Pode-se dizer que ele “intelectualizou a pintura, tornando-a preocupada com o espaço e com as leis da perspectiva. ” É o que se observa em Anunciação ao adotar uma perspectiva francamente renascentista: “Adão e Eva são vistos ao longe, expulsos do Éden, numa evocação simbólica bem entrosada com a transparência luminosa dos trajes de Nossa Senhora e do anjo. A vibração do rosa e do azul sugere a espiritualidade da cena, que transcende o tempo e mesmo o espaço claramente circunscrito na tela.”
Anunciação


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Coleção Gênios da Pintura (1995) publicada pelo antigo Círculo do Livro com apresentação e comentários de Pietro Maria Bardi (1900-1999) que foi jornalista, historiador, crítico, colecionador, expositor e negociador de obras de arte. Bardi foi responsável pela criação do Museu de Arte de São Paulo (MASP), sendo seu diretor por 45 anos consecutivos.

Sempre consultei a coleção de forma fortuita, porém agora decidi fazer a leitura completa seguindo a ordem cronológica dos estilos de pintura tal como organizada por Bardi: Góticos, Renascentistas, Barrocos, Neoclássicos, Românticos e Realistas, Românticos, Impressionistas, Pós-Impressionistas e Modernos.

Quanto a esta suposta "ordem cronológica" é sempre importante ter em mente as palavras de Bardi: “Os termos que se usam na história da arte não devem ser tomados ad litteram; é prudente ter com eles certa elasticidade de interpretação. Nada é rígido na faina artística e nada pode ser colocado nas gavetinhas que o historiador pedantemente constrói para sua comodidade de classificação. ” (Renascentistas, p. 8)

E ainda sobre quão contraditórias entre si podem ser as definições dos diversos estilos e complexas as suas regras, PMB arremata: “Os pintores não criam a partir de regras, mas no ocasionalismo, na insatisfação com a realidade, no estímulo da imaginação, vitória da fantasia e liberdade do espírito – e nunca conforme modelos ou preceitos anteriores. ” (Românticos e Realistas, p. 7)