sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Razão do poema: ensaios de crítica e de estética

O primeiro livro de Merquior (1965) é uma coletânea de seus ensaios sobre crítica e estética como o subtítulo indica.
 Os textos de Merquior, como é sabido, são densos e, portanto, uma tentativa de resumo ou análise mais elaborada não é meu objetivo. Aqui eu destaquei apenas uma discussão que me parece interessante: o conceito essencialista da natureza humana versus conceito histórico desenvolvido no ensaio Estética e Antropologia. Ele afirma, “o conceito marxista do homem repele a interpretação de uma natureza humana que não seja rigorosamente histórica. ” (p. 211) Diante disso, qualquer tentativa de encontrar uma “natureza” humana, algo permanente e que nos define para além das variáveis sociais, políticas, econômicas, em uma palavra, históricas, seria contrário à perspectiva marxista.
Merquior ressalta que está claro que esta percepção é a predominante nos textos de Marx, porém, em sua estética, ao analisar nos Manuscritos econômicos e filosóficos como Shakespeare e Balzac descrevem as deformações no homem causadas pelo capitalismo, Marx estabelecesse “a imagem de um homem despojado de seus valores reais e tornado em puro espectro de si, emagrecido em sua própria natureza. ” (p.209) Quer dizer,  é como se Marx realmente admitisse a existência de uma “natureza humana” que foi corrompida pelo capitalismo.

“É que o marxismo aqui comparece como um historicismo arrependido: depois de proclamar a historicidade de todas as essências; depois de praticar a análise histórica mais inteligentemente que qualquer outro historicismo, depois de denunciar como “metafísica” qualquer ontologia que pretendesse escapar aos limites da História, eis que Marx e os marxistas nos acenam, para que o reconheçamos como o fundamento da arte, com esse indefinível conceito de uma “natureza” humana”. (p. 210)

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