O primeiro livro de Merquior (1965) é uma coletânea de
seus ensaios sobre crítica e estética como o subtítulo indica.
Os textos de
Merquior, como é sabido, são densos e, portanto, uma tentativa de resumo ou
análise mais elaborada não é meu objetivo. Aqui eu destaquei apenas uma
discussão que me parece interessante: o conceito essencialista da natureza
humana versus conceito histórico
desenvolvido no ensaio Estética e
Antropologia. Ele afirma, “o conceito marxista do homem repele a
interpretação de uma natureza humana que não seja rigorosamente histórica. ”
(p. 211) Diante disso, qualquer tentativa de encontrar uma “natureza” humana,
algo permanente e que nos define para além das variáveis sociais, políticas,
econômicas, em uma palavra, históricas, seria contrário à perspectiva marxista.
Merquior ressalta que está claro que esta percepção é
a predominante nos textos de Marx, porém, em sua estética, ao analisar nos Manuscritos econômicos e filosóficos como
Shakespeare e Balzac descrevem as deformações no homem causadas pelo
capitalismo, Marx estabelecesse “a imagem de um homem despojado de
seus valores reais e tornado em puro espectro de si, emagrecido em sua própria
natureza. ” (p.209) Quer dizer, é como
se Marx realmente admitisse a existência de uma “natureza humana” que foi
corrompida pelo capitalismo.
“É que o marxismo
aqui comparece como um historicismo arrependido: depois de proclamar a
historicidade de todas as essências; depois de praticar a análise histórica
mais inteligentemente que qualquer outro historicismo, depois de denunciar como
“metafísica” qualquer ontologia que pretendesse escapar aos limites da
História, eis que Marx e os marxistas nos acenam, para que o reconheçamos como
o fundamento da arte, com esse indefinível conceito de uma “natureza” humana”.
(p. 210)
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